terça-feira, 1 de junho de 2010

Sincronicidade segundo Jung

Galera, estive muito tempo ausente devido a obrigações com o trabalho e com minha pós, mas volto empolgadíssima com um conceito junguiano que muita gente ainda possui dúvidas. Trago um trecho tirado do livro de Jung, chamado "Memória, sonhos, Reflexões", trecho esse escrito pelo próprio Jung. Espero conseguir elucidar o tema.
"Minha preocupação, com relação à psicologia dos processos inconscientes, obrigou-me, há muito tempo, a procurar - além da causalidade -  outro princípio de explicação, uma vez que o princípio da causalidade me parecia impróprio para explicar certos fenômenos surpreendentes da psicologia do inconsciente. Encontrei, assim, fenômenos psicológicos paralelos, que não podiam ser ligados entre si casualmente; deviam ser ligados de outra forma, por outro desenrolar de acontecimentos. Esta conexão de acontecimentos parecia-me ser essencialmente dada, por sua relativa simultaneidade, de onde o termo 'sincronístico'. Parece, com efeito, que o tempo, longe de ser uma abstração, é um continuum concreto; ele inclui certas qualidades ou condições fundamentais que se manifestam, simultaneamente, em lugares diferentes, com um paralelismo que não pode ser explicado pela causalidade. É o caso, por exemplo, de símbolos, idéias ou estados psíquicos que aparecem simultaneamente.
Escolhi o termo 'sincronicidade' porque a aparição simultânea dos dois acontecimentos, ligados pela significação, mas sem relação causal, me pareceu um critério decisivo. Emprego, pois, aqui, o conceito geral de sincronicidade, no sentido especial de coincidência, no tempo, de dois ou vários elementos, sem relação causal e que têm o mesmo conteúdo significativo, ou um sentido similar. Isto não é o mesmo que 'sincronismo', cujo significado é apenas o da aparição simultânea de dois fenônemos.
A sincronicidade não é mais enigmática, nem mais misteriosa do que as descontinuidades da física. Nossa convicção enraizada do poder da causalidade cria, e só ela, as dificuldades que se opõem ao nosso entendimento, e faz parecer impensável que acontecimentos acausais possam existir ou produzir-se. As coincidências de acontecimentos ligados pelo sentido são pensáveis como puro acaso. Mas quanto mais se multiplicam e mais a concordância é exata, mais sua probabilidade diminui e mais aumenta sua inverossimilhança, o que significa que não podem mais passar por simples acaso, mas devem, devido à ausência de explicação causal, ser olhadas como ordenações que têm sentido. Sua 'inexplicabilidade' não é devida à ignorância de sua causa, mas ao fato de que nosso intelecto é incapaz de pensá-la..."