terça-feira, 27 de abril de 2010

Terror no Rio de Janeiro

É impressionante como os inocentes vivem atrás de grades, não as do presídio, mas da criminalidade. Ontem, dia 26 de Abril, minha mãe e eu, como dezenas de pessoas, passamos por uma situação de terror dentro do trem, entre Realengo e Padre Miguel. O Comando Vermelho estava trocando tiros com a Polícia na rua beirando a linha do trem. Nós estávamos na estação de Madudeira a espera da linha Santa Cruz, ao chegarmos lar encontramos um senhor esperando o mesmo trem. Ele nos contou que iria para Bangu como nós, e essa linha já havia sido anunciada há mais de 1 hora e nada de chegar. Acredito que era por volta de quase 2 horas da tarde, o trem chegou após 20 minutos de espera na plataforma. Esse senhor nos contou que estava havendo tiroteio lá em Senador Camará, bem na linha do trem. Como iríamos até Bangu, não nos preocupamos muito.
Como a linha era Direto, ao sairmos de Madureira nossa próxima parada era em Deodoro, mas no meio do caminho o trem deu uma diminuída na velocidade. Como estou acostumada a fazer esse trajeto para atender meus pacientes na Praça Seca, imaginei que algum outro trem estaria parado na próxima estação ou estaria passando no caminho, e que talvez o maquinista do nosso trem estivesse esperando o outro trem retomar a sua rota para seguirmos viajem; foi o que aconteceu. Paramos em Deodoro e tudo estava calmo e tranquilo, como normalmente.
Quando chegamos na estação da Vila Militar alguns camelôs, que costumam entrar no trem para vender águas e outras coisas, disseram que naquele exato momento estava acontecendo troca de tiros entre policiais e bandidos na altura de Padre Miguel e que os bandidos estariam com basucas e escopetas. Algumas pessoas dentro do trem não acreditaram muito, mas fomos avisados por esses camelôs, a viagem inteira. As pessoas ficaram preocupadas, tentando certificar se a informação era correta. Um senhor que estava do nosso lado disse que sua esposa estava na estação de Bangu e que não conseguia sair de lá por conta desse trágico evento, então ficamos em estado de alerta, o medo começou a tomar conta das pessoas.
Ao chegarmos na estação de Realengo uma moça, que também era camelô, nos disse que na próxima estação, a de Padre Miguel, estava em guerra, e nos aconselhou a baixarmos a cabeça em sinal de respeito e que se a coisa "ficasse feia" deveríamos abaixar, até mesmo deitar no chão do trem. Quando estávamos chegando na estação de Padre Migue eu vi dois bandidos fortemente armados do outro lado da rua, eles estavam com escopetas, basucas e outras armas que não consegui identificar e no mesmo instante abaixei, pois o nosso trem estava passando no meio do confronto.

Algumas pessoas ficaram em pé para olhar e disseram que viram os policiais dentro da linha do trem, na plataforma. Minha mãe ficou muito desesperada e tentava me puxar para debaixo dela no intuito de me proteger de alguma bala perdida, até porque escutamos balas atingindo o nosso trem (devido ao nervosismo só consegui ouvir três tiros), mas ela não conseguia porque tinha muita gente perto de nós. O trem corria tanto que parecia que iria sair dos trilhos. Algumas pessoas viram 4 corpos estirados na plataforma, próximo aos policias. Os camelôs já haviam dito que teriam por volta de 3 corpos. Senti que algumas pessoas deitaram em cima de mim e por cima do meu braço, na hora não conseguia sentir dor. Me achei muito fria diante da situação, acho que estava em estado de choque, não conseguia esboçar qualquer tipo de reação de desespero, medo ou pavor.
Após o ocorrido comecei a chorar copiosamente, senti falta de ar e tive a sensação de que iria desmaiar. Um senhor me cedeu o lugar para que eu pudesse sentar, mas a única coisa que passava na minha cabeça naquele momento era de sair do trem. Finalmente chegamos na estação Bangu, a qual era o nosso destino. Na mesma hora me levantei desesperada para sair de lá, quando saímos eu desabei e senti tontera. Nunca havia passado por algo parecido na minha vida. Encontramos alguns taxistas que nos disseram que esse tiroteio estava contecendo desde domingo, dia 25, e que ontem, dia 26, havia começado de manhã cedo. Estranhamos porque mais cedo passamos por lá de trem em direção a Madudeira, um dos taxistas nos informou que talvez nesse momento eles estavam dando uma trégua.
Pegamos o carro que estava dentro do Shopping de Bangu, e quando nos aproximavamos do nosso bairro, em Campo Grande, é que comecei a sentir dores nas costas e nos ombros, além de dores no braço e na perna equerdas. Quando percebi minha perna estava toda suja e toda arranhada. Quando cheguei em casa liguei para o meu pai para informar o que nos havia acontecido, ele me disse que o Rio de Janeiro todo estava assim porque os bandidos estavam tentando assumir novos pontos de droga, e que o mesmo aconteceu no Complexo do Alemão lá em Vila da Penha, próximo onde ele trabalha.
Agora eu me pergunto, será que o nosso país está pronto para assumir a responsabilidade de sediar Copa do Mundo e Olipíada? Além de tudo, achei um absurdo o Cantor Roberto Carlos, aclamado pelos brasileiros como o Rei, ser escoltado para ir ao enterro de sua mãe, sendo que a população é quem precisa ser escoltada e protegida desses bandidos, ouso dizer que até mesmo dos governantes por conta de algo chamado "Politicagem". Confesso que tudo isso me fez refletir: Será que correr riscos na vida significa correr risco de vida? Até que ponto vale a pena arriscar e o que vale a pena arriscar? Acredito que a vida é mais importante que tudo no mundo. Infelizmente o que aconteceu virou fato corriqueiro, a ponto das pessoas se acostumarem com isso e acharem super natural. Onde estão os nossos valores? Onde estão agora os caras-pintadas que fizeram todo aquele movimento para tirar o Collor da Presidência? Onde está a consciência das pessoas na hora de votar? Onde estão os nossos políticos de esquerda que prometem fazer uma revolução no nosso país? Infelizmente, quando chegam no poder se contaminam com os valores subversivos... É por isso que sempre digo: Só Deus quem dita as regras. Pois se nós tivessemos que morrer, não seria o trem com todo o material de ferro ou o fato de abaixarmos na tentativa de nos proteger que salvaria nossas vidas. Até porque naquele momento pensei: Ou vou morrer de bala perdida ou vou morrer num desastre por conta da alta velocidade do trem...
Mas felizmente ou infelizmente, tudo isso faz parte do Processo de Individuação...

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